sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Percepção -> Linguagem -> Filosofia -> Física (parte 4)

Desde a última vez que postei, consegui formular e responder  muitas perguntas sobre a relação da nossa linguagem inata com a física. Foi um trabalho bastante árduo. Vou escrever agora as conclusões que cheguei, e um pouco sobre minha pesquisa no seu estado atual. Tudo, claro, muito resumidamente.

Recapitulando... a humanidade hoje em dia não consegue explicar fatos básicos sobre o universo. Isso é devido, além de muitas outras coisas, ao fato de que temos duas teorias, a física quântica e a relatividade geral que são formuladas usando estruturas completamente diferentes. Na relatividade geral não existe um ''pano de fundo'' de espaço e tempo onde as coisas acontecem... as soluções da relatividade geral na verdade dão a própria geometria do espaço-tempo pra uma certa distribuição de matéria. Mas a teoria que descreve a matéria é a teoria quântica. Como uma partícula quântica curva o espaço-tempo é o maior mistério da física atual, e é a promessa da teoria da gravitação quântica, que continua inexistente. Por enquanto, as alternativas mais conhecidas são a teoria das cordas e loop quantum gravity. Mas já se passou muito tempo, e nenhuma das teorias conseguiu se mostrar satisfatória até agora... o mistérios continua. Minha idéia é procurar uma alternativa partindo de princípios que pareçam promissores. Tudo o que quero no fundo é saber a verdade sobre o universo... qual a verdadeira história do universo? O que de fato aconteceu, e o que acontecerá? A resposta é a promessa da gravitação quântica.  

Quando nos perguntamos qual nosso estado de movimento, temos que especificar em relação a que esse movimento se dá. Porque movimento, por definição, é movimento em relação a alguma coisa. Além disso, dizer que 1 segundo passou não quer dizer nada além de ''o estado do universo passou de x para y''. Ou seja, num universo sem objetos para se movimentarem e mudarem suas posições não haveria tempo, pois não haveria como definí-lo ( ou qualquer definição não teria qualquer sentido), pois o tempo é por definição mudança. Essa é a filosofia relacionista. A pesquisa de Julian Barbour mostra de certa forma que basta impor essa definição de movimento e tempo e a relatividade geral. aparece de forma natural ( e algumas outras coisas interessantes como eletromagnetismo e teorias de gauge). Isso é incrível... o fato de você ter peso, o fato do seu monitor estar ligado à rede elétrica e funcionando, o fato da terra orbitar o sol, tudo isso é consequência de uma definição relacionista de movimento e tempo. Existem muitos detalhes técnicos aqui que não vou discutir, obviamente.Resumindo, é isso.

Mas falta a teoria quântica para chegarmos à gravitação quântica. Será que um estudo mais aprofundado das definições de movimento e tempo poderia dar origem à teoria quântica de forma natural como acontece com o positivismo e a relatividade? Essa é a minha pergunta, e o que estou tentando fazer.
O positivismo é resultado de um questionamento do significado de movimento e tempo. Todos pensam que não há outra forma de se pensar no mundo que não seja usando a linguagem de ''coisas que vivem no espaço e tempo''. Qualquer descrição do universo usa essa linguagem, sejam essas ''coisas'' bolas de bilhar, partículas quânticas, componentes do tensor métrico, etc. Uma extensão natural de perguntar o que é movimento e o que é tempo é perguntar: o que é um objeto?

O que andei pensando é o seguinte:
->movimento ganha sentido através dos conceitos de espaço, tempo e objetos
 ->tempo ganha sentido através dos conceitos de espaço, objetos e movimento
Seria possível aumentar isso para
->objeto ganha sentido através dos conceitos de espaço, tempo e mudança
->espaço ganha sentido através dos conceitos de tempo, mudança e objetos
?
Ou seja, considerar ''mudança'' uma palavra fundamental e construir uma dinâmica ''semanticamente completa''. Dessa forma, se aceitamos que sem objetos para se moverem no espaço não haveria qualquer sentido atrelado à palavra ''tempo'', é natural pensar que não há sentido atrelado à palavra objeto se não tivermos os conceitos de tempo, espaço e mudança a priori. Então talvez o relacionismo seja  um sub-produto desse processo. Toda a estrutura matemática da física seria diferente, e talvez alguma luz fosse lançada na teoria quântica e na gravitação quântica. E por consequência talvez alguma luz seja lançada sobre a pergunta que mais gosto: qual a verdadeira história do universo?