domingo, 16 de outubro de 2011

Paul Davies sobre uma explicação definitiva

 Paul Davies é um do meus autores favoritos. Difícil  ler um de seus livros e não ficar perplexo. O link abaixo é de uma de suas palestras, onde ele se faz perguntas do nível:  Por que o universo é compreensível? Por que o universo pode ser descrito por umas poucas leis muito simples? Por que essas leis são matemáticas


Vale muito a pena assistir principalmente pelas perguntas, mas também pelas tentativas de explicação. Queria saber a opinião de vocês e debatê-lo um pouco aqui. Infelizmente, acho que não existe um versão legendada, mas o inglês que ele usa é relativamente simples.

domingo, 2 de outubro de 2011

Percepção->Linguagem->Filosofia->Física (parte 3)

O que é o espaço? O que é o tempo? Que significado há quando mecionamos essas palavras, ou melhor, a que elas se referem? Experimente parar por 1 segundo e pensar sobre isso.

Será que poderíamos definir o que é o espaço e tempo? Esses conceitos são os mais fundamentais da física, e estranho notar a grande dificuldade que existe em qualquer tentativa de conceituação. Os físicos não costumam se preocupar muito com perguntas desse tipo. O fato mais fundamental é que espaço e tempo podems ser medidos (com réguas e relógios por exemplo). Para o físico, isso é suficiente. A tarefa da física é mostrar como partículas, campos, em geral, coisas, se comportam, se distribuem e se relacionam no espaço e no tempo. Não é preciso perguntar-se o que é o espaço e o que é o tempo para descobrirmos de que forma as ''coisas'' se comportam neles. Todas essas questões aparentemente transcedentais e subjetivas pertencem ao campo da filosofia, porque hipóteses que levassem a definições do que venha a ser espaço e tempo não levariam a teorias quantitativas. Não seria possível, aparentemente, extrair desse raciocíonio números que podessem ser confrotados com experimentos de forma a checar sua falsidade. E tudo seria questão ideologia.

Porém o panorama tem mudado, e nos últimos anos os físicos tem sim, feito essas perguntas profundas. Duas revoluções ocorreram simultaneamente no começo do século passado, a mecânica quântica e a relatividade. As duas teorias tem excelente validação experimental, mas costumam ser usadas em situações onde somente uma delas é importante. A mecânica quântica dá uma descrição precisa do mundo num nível sub-microscópico, enquanto os efeitos da relatividade só são realmente importantes a altas velocidades e próximo a fortes campos gravitacionais. No século XX, a física avançou muito no sentido de mostrar como tudo se encaixava perfeitamente no paradigma quântico... partículas foram promovidas partícula-onda e posteriormente a campos. É muito difícil explicar o mundo sub-microscópico sem usar o framework da mecânica quântica. O grande problema é que a relatividade e mecânica quântica usam conceitos muito diferentes de espaço e tempo, fazendo as duas teorias aparentemente inconciliáveis. E pra piorar a situação, as energias em que os fenômenos de relatividade-quântica podem ser observdas é muito mais alta do que a que dispomos para a relização de nossos modestos experimentos terráqueos.

Escrevi um pouco, no post passado, sobre como a relatividade geral explica o fenômeno da gravitação usando a idéia de curvatura do espaço-tempo. A mecânica quântica admite em sua formulação um espaço-tempo plano, e não incorpora o fato de que a matéria determina a geometria do mesmo. A teoria da gravitação quântica é um grande objetivo e fonte de muitas controvérsias. Efeitos de gravitação quântica são cruciais para entender o que acontece perto de um buraco negro e momentos depois do big bang (ou quem sabe antes!) por exemplo. Porém tem sido muito difícil construir uma teoria que explique tudo isso e que contenha a relatividade geral e a mecânica quântica como casos especiais (e que seja testável), justamente devido a dificuldades com o tratamento distinto dado ao espaço e ao tempo nas duas teorias.

A pergunta ''o que são o tempo e o espaço?'' pode ser reveladora na busca por respostas para o impasse atual da física. Na verdade, até o fato de que é muito difícil respondê-las me parece revelador. Percebemos o mundo a nossa volta, seus diversos fenômenos e os comunicamos a outras pessoas através da linguagem. Todo o objetivo da física é chegar a expressões do tipo ''objetos X se comportam no tempo e espaço de forma Y''. As equações nada mais são que frases cheias de números. Mas o fato é que há um tempo e espaço linguísticos e um tempo e espaço físicos cuja relação não é muito clara. Essa afirmação é muito profunda e complexa.

Nossa percepção do mundo dá origem à linguagem, cujo grande marca é a lógica. Essa por sua vez é uma ferramenta que nos permite classificar como verdadeira ou falsa setenças óbvias. E há perguntas em particular que me pergunto bastante qual sua relação exata com a linguagem...

Por exemplo, o movimento é em sua essência, absoluto ou relativo? A essa pergunta, já muito difícil, adiciono outra: essa pergunta é epistemológica ou linguística? Sempre que proferimos uma sentença do tipo : ''X está na posição 3m'' só há de fato um sentido quando especificamos em relação a que está sendo feita a medida. Também, ''X tem velocidade de 4 m/s'' é uma setença que precisa de um referencial... mas por motivos epistemológicos ou linguísticos? E se o motivo é linguístico, será que estamos descobrindo a física do mundo a partir da nossa linguagem? Será que o próprio conceito de velocidade precisa de um referencial por motivos óbvios que estão contidos em sua definição? Dada uma linguagem, seria possível extrair princípios fisicos dela? Existe outra linguagem? Vivemos num mundo relativamente estável, que nos dá a ilusão de que podemos atribuir a tudo um estado de movimento. Se um objeto está parado, não costumamos dizer que ele está parado em relação ao chão, porque o movimento da Terra foi por milhares de anos, imperceptível. Isso mostra de um modo fraco que descobertas físicas podem influir em nossa estrutura linguística. Mas o que proponho é mais profundo.

Nossa linguagem se desenvolveu a partir da tríade ''COISA-TEMPO-ESPAÇO''.  Mas será que isso é realmente necessário? A física moderna mostra como esses conceitos são frágeis, e é exatamente isso que dá a sensação de esquisitice aos estudantes. O que exatamente o tempo e espaço da linguagem precisam ter em comum com o tempo e espaço físicos? A relação da lógica com isso não está muito clara para mim, mas parece haver alguma coisa. A lógica estuda setenças do tipo ''Se todos os X são Y e todos os Y são Z, todos os X são Z''. O verbo ser/existir, tão fundamentalmente enraizado na lógica, pressupõe uma certa intuição extra-linguística. Perguntas do tipo o ''movimento é absoluto ou relativo'' são oriundas de duas filosofias (relacionista, absolutista) derivam da nossa linguagem COISA-TEMPO-ESPAÇO. E elas dão origem a duas físicas diferentes. Temos, finalmente, o processo percepção->linguagem->filosofia->física . O processo retro-ativo física->filosofia->física  é muito comum. Mas será que poderíamos criar um processo iterativo
linguagem->filosofia-> fisica -> linguagem ?


Será que nossa dificuldade em definir tempo e espaço não vem justamente da estrutura linguística, que usa tempo e espaço para dar sentido a todo o resto? Será que uma linguagem diferente poderia nos levar a uma física diferente? Seria possível construir outra linguagem (e depois quem sabe ''traduzi-la'' para a linguagem ordinária)?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Podemos estar perto de uma grande descoberta...

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/bbc/2011/09/23/descoberta-que-contradiz-teoria-de-einstein-intriga-cientistas.jhtm

domingo, 11 de setembro de 2011

Percepção->Linguagem->Filosofia->Física (parte 2)

No post passado, terminei com uma pergunta... qual seria a interação entre todos os corpos do universo proposta por Mach que daria origem a lei da inercia?

Ninguém sabe. Aliás, durante quase 1 século, ninguém nem se deu ao trabalho de procurar.  Com o advento de uma teoria complexa chamada teoria quântica de campos (sobre a qual irei falar um pouco aqui um dia), a hipótese de Mach de eliminar a metafísica da física em geral, e o movimento em relação ao espaço vazio em particular, pareceu fora de foco. O nobel Steven Weinberg, um dos maiores téoricos contemporâneos, chegou  dizer que se filosofia positivista fosse levada a sério na ciência, sua geração de físico de partículas ficaria sem nada pra fazer. O fato é que  fisica moderna se tornou tão complexa e matemática com o passar dos anos, e se distanciou tanto da nossa realidade intuitiva e palpavel, que se de fato as teorias que partem de conceitos um tanto metafísicos explicam com precisão fenômenos tão sutis, não haveria necessidade de preocupação.  Mas nem sempre foi assim.

Um dos físicos que usou o positivismo de Mach como critério para teorias físicas viáveis foi ninguém menos que Albert Einstein. E o produto de sua abordagem foi a teoria mais bonita da historia, a relatividade geral.

Einstein tinha uma forte inclinação a concordar com Mach que todo movimento de um corpo era em sua essência, sempre relativo a outro. Por exemplo, se você olhar para o céu a noite para ver as estrelas e começar a rodopiar, vai sentir um o sangue correndo para as mãos enquanto elas exibem uma tendência de subir. Essa é a força centrífuga. E o que aconteceria se você simplesmente olhasse as estrelas e elas começassem a girar? Será que a força centrífuga também apareceria? Não há como notar nenhum diferença entre essa situação e a anterior, porque o movimento relativo entre você e as estrelas é o mesmo. Estamos supondo por simplicidade aqui que não há outro movimento de outro corpo que possa dar uma pista nesse problema.

Se as leis da fisica devem dar resultados iguais para condições iguais, então sim, aprentemente a força centrifuga deveria aparecer! O fato é que se há algo de diferente nas duas condições descritas, elas não podem ser observadas! Se há um continuum invisivel que tudo permeia (que convencionou-se chamar de espaço vazio), nenhum experimento jamais o detectou ( um experimento como esse inclusive foi crucial para o advento da relatividade especial). Não seria o movimento de rotação em relação ao espaço vazio, e sim o movimento relativo entre você e os outros corpos do universo que provocaria a força centrífuga? Por que se dar o trabalho de criar o conceito de espaço absoluto afinal? Entra então o velho debate filosófico do post anterior. Será que o movimento do pêndulo no carro devido a aceleração é devido a aceleração em relação ao espaço absoluto vazio ou a uma interação gerada a partir de movimentos relativos entre os corpos? Para o positivismo, fazer fisica baseando-se em conceitos que não podem ser observados ou medidos não passa um belo trabalho da imaginação.

Infelizmente não podemos fazer todas as estrelas começarem a girar para ver o que acontece...

Ao formular a teoria da relatividade geral, Einstein tenta implementar o caráter não físico do espaço ( ou seja, dar importância somente a distâncias, velocidades e acelerações relativas) de um modo indireto. O método mais direto seria usar equações que envolvessem somente relações entre dois corpos. Ao invés de substituir posições absolutas em todas as equações por posições relativas, ele prefere seguir um outro caminho. Vamos imaginar novamente os pêndulos do post passado:





A aceleração que o carro tem em relação ao chão faz o pêndulo acusar uma aceleração dentro do carro. O observador de fora tem um pendulo na posição vertical. Portanto o passageiro sabe que está acelerando, e que não é todo o chão que acelera na direção contrária. Porém se a velocidade do carro em relação ao chão fosse constante, o passageiro não saberia dizer quem tinha movimento, ele ou o chão. A situação seria totalmente simetrica, as leis da fisica seriam as mesmas e não haveriam forças fictícias para resolver o mistério.

Porém, e se o movimento de aceleração fosse devido à.... gravidade? Há uma grande diferença aqui. Lembre que a força de gravidade entre dois corpos é dada por:


E qual a lei de movimento para as massa 1 e 2? F1=(m1)a1=G(m1)(m2)/r²  -> a1=G(m2)/r²
A aceleração de queda da massa 1 num campo gravitacional não depende da massa 1! É exatamente por isso que todos os corpos caem a mesma velocide no campo gravitacional da Terra! Se o carro do exemplo anterior estivesse caindo num campo gravitacional, tudo dentro dele estaria acelerando com o mesmo valor. Portanto o pêndulo não acusaria nenhuma força fictícia... não haveria como um passageiro desse carro distinguir esse movimento do repouso! A aceleração gravitacional, diferentemente das outras não é detectável!!

Isso não passava de uma coincidência misteriosa para Newton. Mas para Einstein não, e aqui entra um pouco do espírito positivista. Dentro do carro que está caindo não existem forças fictícias (desvios da lei de inércia, deflexões de pêndulos)... a lei da inércia vale perfeitamente como se o carro estivesse em repouso. A idéia de Einstein foi a seguinte: se não é possível distinguir o movimento de queda livre de um movimento inercial, então o movimento de queda livre é inercial! É de uma idéia tão simples que nascem resultados tão incríveis.

Se o movimento de queda num campo gravitacional não é acelerado, há alguns fatos que temos que explicar. Como a Terra orbita o Sol sem acelerar? Movimentos circulares sempre tem uma componente de aceleração centrípeta. Einstein sugeriu que a Terra está percorrendo uma ''linha reta'' com velocidade constante no espaço (o movimento é inercial) mas que o próprio espaço próximo ao Sol é curvo! As massas do universo curvam o espaço-tempo de modo que o movimento final que observamos é o correto. A gravidade não é uma força e sim  a curvatura do espaço-tempo!


A geometria do espaço-tempo é alterada devido a presenca de massas-energia. Essa teoria se mostrou formidável. Previu buracos negros, a expansão do universo e mais muitas coisas... saber que tudo isso deriva de um princípio tão simples é assustador e a maioria dos físicos vê essa simplicidade como um milagre... Ao permitir que o espaço-tempo seja curvo, a relatividade faz a física ser igual para todos os observadores, estejam eles acelerados ou não. Esse é o princípio da covariância geral. Não vou escrever muito sobre a relatividade aqui, mas o google tem tudo pra quem quiser conhecê-la em detalhes.

Einstein escolheu motivar sua teoria através de um pensmento filosófico coerente e beleza. Será que o fato dela funcionar é mesmo um milagre? E por que o positivismo foi esquecido? O mais interessante ainda está por vir.

File:Cassini-science-br.jpg

sábado, 13 de agosto de 2011

Percepção ->Linguagem->Filosofia->Física (parte 1)

Sou um físico que como muitos outros, tem uma inclinação a filosofia. As interações entre essas duas disciplinas me fascinam... e nos últimos anos surgiu uma interação maior entre físicos e filósofos. Isso porque historicamente, as pistas para nova teorias sempre vinham de experimentos. Mas para fazer experimentos que pudessem testar as teorias modernas precisaríamos aceleradores de partículas muito maiores que a Terra. Por isso, alguns cientistas estão partindo de pistas filosóficas para tentar chegar a uma teoria que explique o que não entendemos em um todo coerente.

Existe um debate de uma questão de origem filosófica que dura milênios, e que recentemente ganhou mais importância dentro do meio físico.Há muito tempo, a humanidade estuda o movimento das coisas. Tudo tinha um estado de movimento que podia ser observado diretamente, com os olhos. Parado; movendo-se rápido; movendo-se devagar...

Mas então olhou-se para o céu, e viu-se que a Terra estava se movendo, orbitando o Sol. E que na verdade o Sol também se movia em relação ao centro da galáxia. E que o centro da galáxia se movia em relação ao centro das outras galáxias. Mas então, se tudo tem movimento, será que seria possível saber  qual nosso estado de movimento?

Mas na verdade, movimento em relação ao que? Ao espaço vazio? Se o espaço vazio é invisível, como poderíamos descobrir nossa velocidade em relação a ele? Se todos os corpos no universo que poderiam servir como referência para medir a velocidade estão se movendo um em relação ao outro, será que faz sentido perguntar-se esse tipo de coisa?

A própria natureza parece indecisa quanto a isso. Por um lado, aparentemente, velocidades absolutas em relação ao espaço vazio, se existirem, não tem a menor importância para a física. Isso porque toda as leis  são as mesmas independente da sua velocidade, contato que ela seja constante no tempo! Isso quer dizer que se um conjunto de leis físicas {X} valem para um referencial, esse mesmo conjunto vale para um outro referencial que se move com velocidade constante em relação ao primeiro. Por exemplo, se O e O' são dois referenciais que tem velocidade constante um em relação ao outro, o comportamento da natureza é o mesmo para ambos: maças levam o mesmo tempo para cair nos dois referenciais, feixes de luz seguem linhas retas, e etc.

Porém tudo muda quando a aceleração entra em jogo. Quando um referencial tem uma velocidade em relação ao outro que não é constante no tempo, as leis da física parecem mudar! Imagine um carro com um pêndulo pendurado.
Imagine que você está ai dentro e que todas as janelas estão fechadas. Imagine também que você não foi informado que está dentro de um carro. Se ele estiver a uma velocidade constante em relação ao chão, você nunca saberia dizer se estava parado ou em movimento. Simplesmente não há pistas. A lei da inércia diz que corpos em repouso permanecem em repouso eternamente, a não ser que uma força os faça entrar em movimento. Em particular, a bola pendurada no pêndulo permanece em repouso para sempre. Agora considere que o carro está acelerando em relação ao chão


O que aconteceu com a lei da inércia? O que fez a bola se mover? Para uma pessoa dentro do carro, que não sabe que está dentro do carro, a lei da inércia parece ter sido quebrada: um corpo inicialmente em repouso se deslocou em resposta a uma força misteriosa. 

Mas na verdade, para quem está do lado de fora, tudo faz total sentido. O carro acelerou em relação ao chão e a tendência da bola é permancer parada até que o teto do carro puxe a corda do pêndulo. Enquanto a velocidade da bola não seja igual a do carro, essa inclinação vai existir. Então nesse referencial fora do carro, a lei da inércia vale, e ela é na verdade o próprio motivo da inclinação. A força misteriosa do referencial dentro do carro é fictícia: a bola está parada e o próprio carro é que acelera na direção oposta. E o observador de fora do carro tem certeza do que diz. Porque ele também pode ter um pendulo fixo ao chão que está na posição ordinária:


Então ele sabe que não está acelerando,e a simetria da situação é quebrada. O observador de dentro do carro não pode afirmar que está em repouso e que todo o chão está acelerando porque o segundo pêndulo não tem inclinação. ( Na verdade, seu pêndulo poderia apresentar uma pequena inclinação, já que a própria Terra tem uma aceleração que medimos em relação ao Sol, ou á galáxia, ou ''estrelas distantes que parecem fixas'')

A aparente conclusão do debate acima, tirada por Newton, é que o espaço absoluto tem que existir. Embora o fato de que velocidades em relação ao espaço vazio sejam indetectáveis, o espaço absoluto deve existir porque acelerações em relação a ele podem ser detectadas por forças fictícias (aparentes desvios da lei da inércia), como as mostradas nas figuras acima.

Em suma, quer saber se você tem aceleração? Construa um pêndulo ou qualquer outra aparato que meça forças fictícias. Quer saber sua velocidade? Não há como responder essa pergunta.

Mas algumas pessoas discordavam radicalmente da conclusão de Newton. Para eles, o conceito de movimento em relação ao espaço vazio era absurdo, porque não podia ser observado. O que era observado eram tão somente as forças fictícias. A lei da inércia de Newton diz que um corpo em repouso em relação ao espaço vazio permanecerá em repouso eternamente a não ser que uma força o faça entrar em movimento.


Mas movimento (invísivel) em relação ao espaço  parece ser uma idéia um tanto mística. Para os rivais de Newton, a física devia ser uma ciência que contivesse em sua formulação somente elementos observáveis e fizesse predições testáveis. Todo o resto é questão de filosofia ou fé, que foge totalmente ao interesse da física. Essa corrente filosófica denominada positivismo afirmava que a função da ciência era tão somente explicar os dados experimentais com teorias coerentes e livre de contradições. Qualquer extraploação disso  seria filosofia vã.

 
 Mach: um dos maiores positivistas


Assim, se seguirmos os preceitos positivistas, teremos que reformular a lei da inércia. Pois ela em sua forma original contém elementos não observáveis (movimento em relação ao espaço vazio) e portanto acreditar nela seria de fato um ato de fé. Para os positivistas, faz mais sentido descrever o movimento de todo e qualquer corpo no universo usando um outro corpo como referencial. Movimentos relativos entre dois corpos são observavéis. E portanto a lei da inércia deveria surgir a partir de uma interação a princípio desconhecida entre todos os corpos do universo. Que interação seria essa?


sábado, 23 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011

Loop Quantum Gravity descartada?

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=fisica-pos-einstein&id=010130110701

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Grupo de Estudos

No livro ''Uma Breve História do Tempo'', Stephen Hawking começa contando uma anedota que teria ocorrido a séculos atrás. Um astrônomo e uma senhora idosa discutiam. O astrônomo insistia que a Terra era uma esfera que orbitaria em torno do Sol , percorrendo o espaço vazio. A senhora, no entanto, não abria mão da crença de que a Terra tinha de estar apoiada sobre alguma coisa (caso contrário ela cai!). Para ela, uma tartaruga gigante segura a Terra em seu casco. E para que a tartaruga não caia, há outra apoiando-a logo abaixo, e assim por diante.


E como diria Hawking, essa visão do universo pode parecer bastante ridícula hoje. De fato, a idéia da pilha de tartarugas é um fracasso como teoria científica. Porém a física atual também não consegue reunir fatos como a órbita da Terra no espaço e as cores de um arco-irís em um todo coerente!

Assim como as tartarugas infinitas fracassam em dar uma explicação ao universo, também fracassa a relatividade geral, por exemplo. Os teóricos avançaram muita nas últimas décadas em direção a uma teoria unificada, que englobasse todos os fenômenos observados no universo, mas a ''teoria de tudo'' continua sendo um projeto difícil. É cada vez mais comum a idéia de que uma revolução conceitual bastante criativa é necessária. E quais os conceitos mais problemáticos que precisam ser revistos? Espaço e tempo.

Estou montando um grupo de estudos sobre o livro do Julian Barbour, ''The discovery of Dynamics''.  O livro é acessível até mesmo a um aluno de ensino médio esforçado. O que significa dizer que a posição de um corpo no espaço vazio é (x,y,z) se não há outros para a medição dessa propriedade? O que significa dizer que o tempo passa para um corpo num universo vazio se não há qualquer mudança para ser cronometrada? Esses são alguns dos problemas milenares sobre espaço e tempo, e na verdade são considerados cruciais para a unificação da física. O livro tem como assunto principal exatamente isso: o movimento é, em sua essência, relativo ou absoluto?

Ele tem um enfoque histórico... mostra como as visões atuais do tempo, espaço e movimento foram sendo criadas. Mas o livro é muito mais do que uma mera descrição histórica. Pois, segundo Barbour, '' it attempts to put this discovery in the perspective of as yet unresolved questions relating to the basic concepts of space, time, and motion''. 

O mais interessante é que insights valiosos podem aparecer numa leitura como essa. Portanto, se alguém quiser entrar nesse grupo de estudos, ou estiver curioso sobre a idéia, mande um email para mim dw-alves@hotmail.com. Os pré-requisitos são somente física básica e inglês. A idéia é exatamente  ler o livro e achar falhas! Na minha opinião, um livro como esse deve ser ''duvidado'' em sua leitura do começo ao fim. O autor certamente  teve que ser ousado para escrever e pensar sobre certos assuntos,  e acho que essa é a principal lição. O leitor deve ser ainda mais.

sábado, 18 de junho de 2011

Past, Future... what is really the difference?

This is a blog about the fundamentals of physics and intriguing questions. Because I´m from Brazil I usually write in portuguese. This project is growing fast, however, and it is incredible how thing spread rapidly in the internet. So I will start to write in english ocasionally so that a larger number of persons will be able to follow my questioning. Right now I´m on the middle of my final exams period in the university, so I don´t have too much time to think before posting. I´ll be able to elaborate a lot more soon. In this post I will just share a question that give physicists a lot of headaches.

You might have heard someday that physics claims to be the science that tries to explain the whole universe. One could wonder that such a project is utopic...that thousands and thousands of books would be necessary to explain something as complex as the universe. But, by the fundamental pratice of experimentation, one can find out that there is a lot of regularity in the behaviour of things in space and time. It is an experimental fact that some laws apply in general and always. And by observing things closely, it is surprising to see that the complexity is not contained in the laws, but elsewhere. Stars, planets, atoms and even you are physical system that obey a few (very simple) laws. So how can we observe so much complexity anyway?

The main reason for that is that the fundamental laws apply to elementary particles ( or superstrings, or anything else) that are very small compared to us as conscious beings. Those elementary ''bricks'' of matter exist in an amazing huge number. By huge number I mean millions of millions of millions of... When they interact with each other (obeying very simple laws) complex behaviour start to appear. Stars start to burn, planets are formed and you born. But, ultimately, those complex systems are always big as regarding to their number of elementary ''bricks'' ( there is also chaos theory, but lets forget that for a second).

And in fact, stastical mechanics is a branch of physics that prove that macroscopic and complex phenomena is the result of the behaviour of a large ensemble of atoms, molecules, or anything else obeying very simple laws. So, in summary, complexity arises from simplicity plus a big number of systems, and this can be very well understood. Physicists and engineers develop new materials, for example, using this kind of reasoning.

However, one beautiful piece of this link between macroscopic complexity and microscopic simplicity remains unexplained. The difference between past and future.

Recall Newton´s second law, F=ma. In the past this was considered one of those fundamental simple laws that I just mentioned. All matter, they thought, was made of elementary bricks they called atoms, that obeyed this simple law. Our current picture has evolved a lot since them, but the following arguments are still valid. So let´s assume that newton´s second law is true. By looking at F=ma, we can see that this equation is symmetric in time! (If you have studied calculus, the aceleration is d²x/dt² and by exchaging t´=-t, it is straightfoward that d²x/dt²=d²x/d(t')².)

This means that if instead of measuring time with a normal clock, we choose to use one that runs backwards, there´s no way we can state wheter this clock is the foward or  the reversed one.Said in another way, if you observe two successive states of a physical system, F=ma states that you can never tell what was the cause and what was the consequence. Modern refinements of Newton´s law (quantum theory and relativity) won´t help us in this issue, for they also state that there´s no difference between past and future. So, apparently, the meaning of time for the fundamental bricks of the universe is something quite different to what we would expect!

Now, it is reasonable that when 10²³ atoms interact together the resulting behaviour could be complex. But how could the assymetry between past and future that we observe  ever be recovered  if the fundamental laws that the bricks of nature obey don´t distinguish past and future at all??

This question, know as the ''arrow of time problem'' remains unsolved. Any ideas?